Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

17 de setembro de 2014

Infância - Tia Dete

Por Juliana Soledade


Tia Dete sempre observava a casa cheia, no final da tarde ela se debruçava na mureta da varanda e contemplava o dia indo embora, mantinha os seus cabelos brancos e parecia ter medo do futuro.

Arregalava os olhos todas as vezes que minha mãe ofertava uma carteira de cigarros escondida, ela sempre tinha agilidade para esconder sem que ninguém suspeitasse.

Tia Dete - Arquivo de Gillis Lisboa
Titia tinha voz rouca, e um riso gostoso de ouvir, falava pouco e não me recordo de vê-la falando alto. Eu era costumeiramente confundida por uma tia já falecida. Nunca soube se era feliz ou triste, sei que era doce com o mundo e seu olhar na varanda era de quem esperava o amado voltar.

Quando bem menina, íamos aos almoços de domingo, na casa cheia de filhos, netos e agregados, a sala de jantar enchia. As crianças nunca sentavam a mesa, e sim numa escada que dava acesso ao quintal. Vovô também ia conosco. Nunca esqueci o sabor da galinha com batatas servidas, tinha amor como tempero.


Eu nunca soube o que ela gostava e o que não gostava. Nunca ficamos sozinhas, ela tinha um exército protegendo-a e cuidando-a com todo afeto que pudesse existir. As suas mãos fortes tocavam em meu ombro como sinal de cumprimento.Seu olhar comprido esparramava certa delicadeza. Titia me trazia paz.


Itabuna, verão de um ano qualquer.

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