Por Juliana Soledade
Tia Dete sempre observava a casa cheia, no final da tarde ela se debruçava na mureta da varanda e contemplava o dia indo embora, mantinha os seus cabelos brancos e parecia ter medo do futuro.
Arregalava os olhos todas as vezes que minha mãe ofertava
uma carteira de cigarros escondida, ela sempre tinha agilidade para esconder
sem que ninguém suspeitasse.
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Tia Dete - Arquivo de Gillis Lisboa |
Quando bem menina, íamos aos almoços de domingo, na casa
cheia de filhos, netos e agregados, a sala de jantar enchia. As crianças nunca
sentavam a mesa, e sim numa escada que dava acesso ao quintal. Vovô também ia
conosco. Nunca esqueci o sabor da galinha com batatas servidas, tinha amor como
tempero.
Eu nunca soube o que ela gostava e o que não gostava. Nunca
ficamos sozinhas, ela tinha um exército protegendo-a e cuidando-a com todo
afeto que pudesse existir. As suas mãos fortes tocavam em meu ombro como sinal
de cumprimento.Seu olhar comprido esparramava certa delicadeza. Titia me trazia
paz.
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Itabuna, verão de um ano qualquer.