O telefone tocou cinco vezes antes de eu sair para a
faculdade. O whatsaap apitou as 1233
mensagens de sete conversas diferentes. Li algumas notícias globais pelo tablet que já fica bem posicionado no
criado mudo para facilitar, tanto antes de dormir, como ao despertar. Vibrei
com algumas informações, entristeci com outras. Ingeri três dos cinco compridos
necessários pela manhã. E, ainda deitada, fiz a leitura enfadonha do
obrigatório. Pisei no tapete e repentinamente a cabeça já começou a doer.
Buzinas, picas-alertas e gritaria às sete da manhã. Pessoas
atravessando a faixa de pedestre no momento errado e veículos invadindo o sinal
vermelho. Uma obra inacabada trazendo transtorno a uma população indigesta. Um
triste desrespeito com o velhinho, mas carro parado para a gostosona de short
curto e blusa decotada. Um buraco inesperado e a gasolina em alta. “Eita,
Brasil”, penso eu.
Em meio a tantas informações, nem sei mais no que pensava em
um minuto atrás.
O chefe coloca três envelopes sobre a mesa para resolver pendências. A caixa de e-mails pede solução, breve e sucinta. A secretária desespera com os prazos. Os sites regionais apontando problemas, transtornos, impasses.
O chefe coloca três envelopes sobre a mesa para resolver pendências. A caixa de e-mails pede solução, breve e sucinta. A secretária desespera com os prazos. Os sites regionais apontando problemas, transtornos, impasses.
Estou ao celular num ouvido, com o telefone preso pelo ombro no oposto, cinco pessoas me pediram solução de problemas outros, a agenda deste
ano já esgotou. Mais três e-mails chegaram, e o whatsaap ainda não parou, nem eu.
É melhor produzir, render, executar, pensa o superego. O
cliente tem pressa. E eu também.
Não vi o correr do dia, não vi o cenário, não observei o
sapato novo da secretária, e sequer percebi que aquele cliente regular estava
com a voz rouca. Muito menos vi o inverno chegando, não senti o vento, nem
percebi que o dia está se despedindo mais cedo.
A vida quando para é tarde para ser cedo demais.
Juliana Soledade