Era paixão, diferente de
todas as outras colhidas pelo caminho. Após o término de dois relacionamentos
perturbados, surgiu a inauguração de outro. Uma verdadeira metáfora da
confiança no futuro, da estabilidade da relação, a real esperança de que dias
melhores viriam. A ternura, o encantamento e a alegria trazidos naqueles ventos
beira mar, foi um autêntico abalo sísmico de emoções em círculos concêntricos.
Para ela os primeiros
momentos dos tempos de pós-separação. Para ele uma realidade que parecia
distante. Ela precisava de tranquilidade, ele possuía a calmaria. Eles tinham um
modo diferente de qualquer outro para dialogarem.
Pilares como respeito, comunhão
e verdade dançavam entre as os dedos entrelaçados do casal. Hábitos e culturas
se mesclam em um só cotidiano, em um só tempo. Eles conseguem mobilizar
sentimentos, fazendo sucumbir velhos rancores.
Pequenas gentilezas vão
firmando os laços em nome da súbita paixão e do desejo descomedido, esse
relacionamento tem um universo em movimento permanente. A delicadeza relacional
tecida a quatro mãos. Um tempo provedor de benesses. Não acreditavam em
lealdade, descobriram juntos.
O cartão postal era o pôr-do-sol
na beira do litoral, resvalando lentamente para a noite, o sol desenhava a
sombra embolada no corpo da mulher, até que os últimos alentos vermelhos
atingiriam com o beijo.
O fantasma do passado assombrava,
entretanto não adiantava esquecer, ele estava ali, carregado com as histórias antigas
e todos os alicerces estavam envolvidos. A presença estava mais aparente do que
imaginava: na cor dos olhos, no sobrenome, no temperamento do filho mais velho
ou no jeito de andar do filho mais novo.
Eles não estavam sozinhos, havia
diversas personagens ao redor, e sabiam que cada movimento seria acompanhado,
minimamente decifrado, interpretado pelos observadores nem sempre discretos e generosos,
reabrindo feridas anteriores não elucidadas e nem devidamente cicatrizadas. Um
verdadeiro ‘golpe baixo’ no entusiasmo germinado pelo casal.
Quando já
pensava ter cruzados fronteiras mais tranquila, numa sexta-feira santa ela foi
atingida pelo sentimento de fracasso frente aos novos projetos e sonhos
construídos.
Não houve
ritual para a despedida, sequer estabeleceram lugares que cada um ocuparia na
nova arrumação daquela vida. Ausência ficou muda e sem lugar.
Juliana Soledade
21 de Janeiro de 2014
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conto,
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