Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

21 de janeiro de 2014

De volta, para dentro

Era paixão, diferente de todas as outras colhidas pelo caminho. Após o término de dois relacionamentos perturbados, surgiu a inauguração de outro. Uma verdadeira metáfora da confiança no futuro, da estabilidade da relação, a real esperança de que dias melhores viriam. A ternura, o encantamento e a alegria trazidos naqueles ventos beira mar, foi um autêntico abalo sísmico de emoções em círculos concêntricos.

Para ela os primeiros momentos dos tempos de pós-separação. Para ele uma realidade que parecia distante. Ela precisava de tranquilidade, ele possuía a calmaria. Eles tinham um modo diferente de qualquer outro para dialogarem.

Pilares como respeito, comunhão e verdade dançavam entre as os dedos entrelaçados do casal. Hábitos e culturas se mesclam em um só cotidiano, em um só tempo. Eles conseguem mobilizar sentimentos, fazendo sucumbir velhos rancores.

Pequenas gentilezas vão firmando os laços em nome da súbita paixão e do desejo descomedido, esse relacionamento tem um universo em movimento permanente. A delicadeza relacional tecida a quatro mãos. Um tempo provedor de benesses. Não acreditavam em lealdade, descobriram juntos.

O cartão postal era o pôr-do-sol na beira do litoral, resvalando lentamente para a noite, o sol desenhava a sombra embolada no corpo da mulher, até que os últimos alentos vermelhos atingiriam com o beijo.

O fantasma do passado assombrava, entretanto não adiantava esquecer, ele estava ali, carregado com as histórias antigas e todos os alicerces estavam envolvidos. A presença estava mais aparente do que imaginava: na cor dos olhos, no sobrenome, no temperamento do filho mais velho ou no jeito de andar do filho mais novo.

Eles não estavam sozinhos, havia diversas personagens ao redor, e sabiam que cada movimento seria acompanhado, minimamente decifrado, interpretado pelos observadores nem sempre discretos e generosos, reabrindo feridas anteriores não elucidadas e nem devidamente cicatrizadas. Um verdadeiro ‘golpe baixo’ no entusiasmo germinado pelo casal.

Quando já pensava ter cruzados fronteiras mais tranquila, numa sexta-feira santa ela foi atingida pelo sentimento de fracasso frente aos novos projetos e sonhos construídos.


Não houve ritual para a despedida, sequer estabeleceram lugares que cada um ocuparia na nova arrumação daquela vida. Ausência ficou muda e sem lugar.


Juliana Soledade
21 de Janeiro de 2014

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