Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

2 de abril de 2013

Quando a máscara cai


Olhávamo-nos, a graça dominava, entre um misto de gratidão e devoção. Ríamos sem grandes motivos, os abraços –apesar de poucos – eram facilmente substituídos por palavras de agradecimento. Caminhávamos rumo a novas paisagens, discutíamos o tempo, a estrada e os novos assuntos polêmicos, faltavam-me argumentos para suas tantas certezas.


Aquele respeito vinha em forma de veneração, onde sequer Deus poderia realizar atos em tão perfeita sincronia e delicadeza. A maneira com que se colocava a efetuar as atividades – desde as mais simples até as mais complexas – a exatidão, a confiança das palavras, a segurança desde o acordar até o adormecer, a firmeza como desenhava os pés no chão... A tradução do poder de ser além, sobre qualquer outra pessoa.


O discurso, sempre tão bem pontuado, cessava qualquer necessidade de verificação dos fatos; a confiança, tamanha, ceifava qualquer mínimo pensamento dúbio. A relação de divindade era notória.

Mas a maturidade trazida pelas experiências vivenciadas inicia um processo de corrosão na blindagem da divindade. Começam a surgir, então, as fissuras existentes na imagem antes adorada. Com isso, os laços – outrora firmes, insolúveis – passam a afrouxar, até que um dia simplesmente caem, em pontas separadas.

O perfume já não era o melhor a ser exalado, o sorriso de criança boba a cada presente ofertado foi lançado a léguas, a presença, antes tão querida, hoje é motivo de angústia e a voz, que outrora ecoava como melodia suntuosa, é estopim da aflição.



Os passos, antigamente tão bem desenhados, passaram a ser escutados como marcha ao dilúvio.

Aquele discurso, inquestionável, converteu-se em falácias, palavras podres. O castelo entrou em processo de desmoronamento, diuturnamente abalado por ondas de desarmonia, implacáveis. Somente alicerces profundos ainda resistem. O restante, em breve, será somente história.



Juliana Soledade

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